Ele
abriu a velha caixa de fotografias que ficava guardada embaixo da cama. Como
suas pernas, o papelão estava manchado pelo tempo e, como seus cabelos, deixava
rastros sobre o lençol. As fotos eram como uma estrada capaz de percorrer o
tempo ao invés do espaço. Retiradas uma a uma ou em pequenas pilhas, elas iam
perdendo a cor, a definição, e até mesmo pedaços. Mais ou menos no meio do
caminho, ele encontrou o que queria.
Os
retratos estavam ainda inteiros, perfeitamente visíveis, embora tivessem
adquirido a tonalidade típica dos momentos que ficam para trás. Bem em cima, um
rapazote de vinte e poucos anos posava diante de um imponente edifício, coberto
pela coloração amarela do passado. Um reflexo dos dentes, das unhas e das
marcas de injeção da figura enrugada sobre a cama, que parecia tão ousada e
composta na antiga fotografia, com seu uniforme do tiro de guerra.
Os
dedos constantemente trêmulos acariciaram o rosto do rapaz, que era e não era
mais – era passado e presente ao mesmo tempo. Com passinhos curtos, ele levou o
retrato até uma outra figura enrugada, sentada em uma cadeira de balanço,
coberta por um xale florido.
-
Aqui: uma foto do seu noivo.
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É velha.
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Não é, não. É nova. É do seu noivo.
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Está amarela.
-
É efeito. Desses que a garotada gosta.
A
mão magra e coberta por ondinhas saiu de baixo do xale e tomou com cuidado a
fotografia das mãos daquele homem desconhecido. Um sorriso se acendeu no rosto
daquela mulher, que ele conhecia tão bem. E os dois fitaram com afeto as
feições sorridentes de seus amados, cada um preso em sua própria época.
Muito lindo! Voce escreve muito bem.
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